Simpósio atrai público e promove conhecimentos sobre deficiências ocultas
Especialistas, vereadores, representantes da Prefeitura e do governo do Estado, parlamentares de outros municípios, além de grande público participaram, em duas noites consecutivas, do Simpósio Deficiências Ocultas, realizado pela Câmara de Ponte Nova nos dias 11 e 12 de abril. O evento enriqueceu o conhecimento sobre o diagnóstico, características, desafios das deficiências e formas de atendimento.
Nas duas noites de evento, seis especialistas, incluindo psicóloga, psicanalista, advogada, neurologista, psicopedagoga, coloproctologista e endoscopista, falaram para um público de mais de 330 pessoas que participaram presencialmente. O simpósio também foi transmitido ao vivo e obteve mais de 720 visualizações no YouTube e alcançou quase 1.200 contas no Facebook.
O simpósio foi realizado pela Câmara em atendimento à demanda apresentada pela Comissão de Cidadania e Direitos Humanos (CCDH). Os trabalhos do evento foram coordenados pelo presidente da Câmara, vereador Dr. Wellerson Mayrink (PSB). Também compuseram a mesa de autoridades o presidente da CCDH, vereador Sérgio Ferrugem (Republicanos), o prefeito, Wagner Mol, a secretária municipal de Educação, Keila Lacerda, a superintendente regional de Ensino, Rosane Fialho, e a representante da Superintendência, Elza Fonseca. Diretores de instituições de ensino e professores também participaram do simpósio.
Transtornos do Espectro Autista e de Déficit de Atenção e Hiperatividade
A psicóloga, psicoterapeuta cognitivo-comportamental e professora Ludmila Venturini Almeida abriu a primeira noite de palestras. Ela abordou sobre o que são o Transtorno do Espectro Autista (TEA) e o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).
“São condições que ocorrem durante o desenvolvimento do cérebro, quando ainda somos fetos”, explicou. “Existe uma ideia de que para uma pessoa ter TDAH ela precisa ser aquela que não para quieta. [...] Só que não. O que a gente observa é que com o curso do transtorno, na medida em que a pessoa vai amadurecendo cronologicamente, os sintomas de hiperatividade e hipercinesia eles vão diminuindo, e a pessoa vai ficando hipercinética aqui [cabeça], pensamento atrás de pensamento”, acrescentou.
“Para ser um diagnóstico de TEA a gente precisa ter essas duas características principais: primeiro, que seria alteração na comunicação social e interação social; [...] e a presença de comportamentos restritos e repetitivos”, explicou.
Ela também falou sobre a classificação dos transtornos, a quantidade de diagnósticos e os sintomas. “Não é simplesmente uma pessoa que tem dificuldade para controlar os impulsos e é desatenta e hiperativa. É um cérebro diferente”. Ludmila também abordou sobre nomenclaturas e termos relacionados aos transtornos.
O psicanalista e professor Anderson Pereira Araújo ministrou a palestra Autismo e TDAH. Ele abordou sobre a identificação dos transtornos e destacou que elas “não têm cara”. “Eles não trazem diferenças na fisionomia das pessoas. A diferença está na forma como eles relacionam com o mundo”.
Anderson abordou sobre os subtipos do TDAH e destacou sobre a ocorrência do transtorno desde a infância até a fase adulta, além da importância do conhecimento sobre o assunto. “Você tendo esse conhecimento que você está adquirindo aqui hoje, você é capaz de saber lidar, saber orientar”.
Sobre TEA, Anderson compartilhou experiências por ser pai de autista, citou sinais perceptíveis na infância e características de uma pessoa que possui o transtorno. Ele abordou sobre os motivos que classificam o TEA como uma deficiência e propôs reflexão sobre a conscientização da sociedade sobre o assunto.
Direitos das pessoas com autismo
A advogada especializada em Saúde Humana e Animal, Claudia Nakano, falou sobre os direitos das pessoas com autismo. Ela apresentou as normas legais que tratam sobre o assunto. “Tudo começou com a Declaração dos Direitos das Pessoa com Deficiência, que nasceu em 1975. E antes dessa data, a gente não tinha nenhum respaldo”, lembrou. Claudia destacou a contribuição da Constituição da República de 1988 para o tema.
Ela citou as leis federais nº 10.216, nº 8.069, nº 13.146, nº 13.977 e nº 12.764, sendo essa última a que reconheceu o autismo como uma deficiência perante a lei.
Claudia elencou direitos garantidos às pessoas com autismo: Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (Ciptea), saúde, educação, emprego, não discriminação, emissão de documentos, proteção contra qualquer forma de abuso ou exploração, passe livre, bilhete único, vaga especial, gratuidade em estacionamentos, liberação de rodízio de veículos (como em São Paulo), Benefício de Prestação Continuada (BPC), lazer, fila preferencial, desconto em passagens aéreas (para acompanhantes dos autistas), redução de jornada de trabalho (também para responsáveis), liberação do Programa de Integração Social/Programa de formação do Patrimônio do Servidor Público (PIS/Pasep), liberação do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e isenção de impostos.
“Leis federais, leis estaduais, leis municipais elas existem, elas estão aí. Mas o que nós precisamos é que tenha uma integração do poder público. [...] Nós também podemos ajudar e até fazer valer os seus direitos, como no caso por exemplo da fila preferencial”, ressaltou.
O neurologista Raphael da Silva proferiu a palestra Demências. “É a perda ou redução progressiva das capacidades cognitivas, de forma parcial ou completa, permanente ou momentânea e esporádica, suficientemente importante a ponto de provocar uma perda de autonomia do indivíduo”, explicou.
Ele apresentou dados sobre a prevalência na sociedade, o histórico de definição para o diagnóstico e a importância de se tratar a deficiência desde o estágio inicial. O médico falou sobre a doença de Alzheimer, uma das formas de demência.
“O tempo médio de sobrevivência após o diagnóstico varia de quatro a oito anos. [...] A maioria dos casos que estão sendo diagnosticados como doença de Alzheimer eles estão lá no final da ponta, já estão num quadro que não tem muito o que fazer mais”, relatou.
Raphael explicou sobre os fatores de risco para o Alzheimer, como a doença se desenvolve e abordou sobre pesquisas em andamento para cura. Ele também apresentou diferenças entre a doença e problemas de memórias.
Transtornos do neurodesenvolvimento na sala de aula
A psicopedagoga Rita Alice de Carvalho Lopes ministrou a palestra “Pensando as diferenças existentes na sala de aula a partir da análise dos transtornos do neurodesenvolvimento”.
Rita destacou a importância do afeto para ensinar conteúdos para crianças. “Quando a gente ensina com afeto, quando a gente sabe o que estamos fazendo, as crianças e os adolescentes eles vão aprendendo mais”. Ela abordou sobre os transtornos do neurodesenvolvimento e de aprendizagem e defendeu uma educação inclusiva. “É muito melhor você adaptar para todos, porque todos vão participar, do que para um só”.
Para o diagnóstico, Rita frisou que é necessária uma avaliação multidisciplinar. Entre os transtornos, ela citou a dislexia, discalculia e TDAH e ressaltou uma atuação integrada entre escola, família e demais envolvidos na formação do aluno.
Doença de Crohn e Colites Ulcerativas
O médico Coloproctologista e Endoscopista Ranieri Leonardo de Andrade Santos abordou sobre a doença de Crohn e colites ulcerativas, consideradas doenças inflamatórias intestinais. “O paciente tem sangramento, tem dor abdominal, tem alteração do hábito intestinal com diarreia, por exemplo”, citou sobre os sintomas.
Ele relatou que o número de casos tem aumentado nos últimos anos, provavelmente em virtude da difusão de conhecimentos sobre o assunto. Apesar disso, Ranieri avaliou ser necessário melhorar o diagnóstico. “A gente precisa melhorar o acesso das pessoas com sinais e sintomas que sugiram que ela seja portadora dessa deficiência oculta. Uma estratégia importante seria o acesso à realização da colonoscopia”.
Para o diagnóstico, o médico disse que dois profissionais são essenciais neste processo: gastroenterologista e coloproctologista. Ranieri também destacou o custo do tratamento das doenças, que é alto.
Durante a palestra, o paciente Denymar Thales de Sá, que possui diagnóstico para doença de Crohn, compartilhou depoimento sobre sua experiência. Ele relatou os desafios para conseguir o diagnóstico e o convívio com a doença.
Nos dois dias, o público pôde interagir com os palestrantes por meio de comentários e perguntas.
Os vídeos das duas noites das palestras estão disponíveis na página da Câmara no Facebook e no canal no YouTube e acessíveis a seguir:
11/04/2023 – Simpósio Deficiências Ocultas
Vídeo no Facebook | Vídeo no YouTube
12/04/2023 – Simpósio Deficiências Ocultas
Vídeo no Facebook | Vídeo no YouTube