Servidores e vereadores participam de capacitação sobre desafios e habilidades no serviço público
“O nosso desafio é: como podemos adaptar o parlamento ao cidadão do século XXI? Como podemos adaptar o nosso parlamento, que foi criado seguindo regras, conceitos e princípios de 200, 300 anos atrás e que funciona mais ou menos do mesmo jeito do que a 200 ou 300 anos atrás, de forma geral, no mundo inteiro, para ouvir esse cidadão do século XXI?”.
Essa foi uma das reflexões propostas pelo doutor em ciência política e sociologia e professor e pesquisador no Centro de Formação da Câmara dos Deputados, Cristiano Ferri Soares de Faria, durante palestra ministrada no evento Atualidades no Setor Público, realizado pela Escola do Legislativo da Câmara de Ponte Nova, na última sexta-feira (4).
O evento teve como foco agentes públicos de qualquer ente e poder. O palestrante convidado, Cristiano Ferri, falou sobre o Parlamento no Século XXI e Habilidades do Agente Público do Século XXI.
Por conta da pandemia, apenas os servidores do Legislativo de Ponte Nova participaram de forma presencial, mas a programação foi transmitida ao vivo na página da Câmara no Facebook e no canal no YouTube.
Os vereadores eleitos de Ponte Nova também participaram do encontro (Suellenn Fisioterapeuta - PV, Wagner Gomides - PV, Emerson Carvalho - PTB, Juquinha - Avante, Dr. Wellerson - PSB e Guto Malta - PT. Zé Roberto Júnior - Rede acompanhou pelas redes sociais). A vereadora Tia Denise (Podemos) e os reeleitos André Pessata (Podemos) e Pracatá (MDB) também estiveram presentes.
Servidores e vereadores das Câmaras de Urucânia, Ouro Preto, Juiz de Fora, Dom Silvério, Oratórios, Manhuaçu e Belo Horizonte assistiram o evento pelas redes socias. A transmissão também foi acompanhada por funcionários da Câmara dos Deputados, da FEA (Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária) da USP (Universidade de São Paulo)/UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora), além da Secretaria de Estado da Educação de Minas Gerais e da ALMG (Assembleia Legislativa de Minas Gerais). Até a tarde desta segunda-feira (7), os vídeos das duas palestras somavam 746 visualizações nas plataformas do YouTube e Facebook.
Cristiano apresentou boas práticas de inovação que estão acontecendo no mundo na área de parlamentos. Ao lembrar que o parlamento, ainda hoje, segue características de até três séculos passados, o professor ressaltou que a humanidade mudou muito nesse período, principalmente nos últimos 30 anos.
“Três coisas se tornaram commodities: tecnologia, informação e comunicação. Todo mundo consome e produz informação, todo mundo consome e produz comunicação e iteração. [...] Houve uma certa democratização dessas três coisas, e esse é cidadão do século XXI”, disse ao destacar a influência dos smartphones na vida dos seres humanos atualmente.
Cristiano lembrou que mesmo com as possibilidades geradas pela internet para a resolução de problemas diversos, o cidadão “precisa voltar ao século passado” na hora de interagir com o serviço público. Ele alertou para o declínio na confiança da população nas instituições públicas e do governo.
“Ele [o cidadão] não quer ser só eleitor mais, como era no tempo dos colonos que chegaram na América. Ele quer muito mais, tem capacidade de, por exemplo, apresentar ideias maravilhosas sobre algum assunto que ele trabalha. [...] Há formas de ouvir todo mundo hoje, com tecnologia e com métodos. [É preciso] Dar abertura a participação social das pessoas”, destacou o professor.
O pesquisador falou sobre o conceito de plataformização da democracia, que é o movimento de transferência do parlamento para as redes socias. “Se o parlamento do século XXI não encontrar formas de ouvir essa inteligência coletiva espalhada por aí de pessoas apaixonadas por temas ou de pessoas que têm experiências com temas, ele está perdendo uma grande força de inteligência, de informação para o seu trabalho. Ele enfraquece o seu trabalho, porque essas pessoas vão falar nas redes sociais”, afirmou.
Ao falar sobre o Poder Legislativo, Cristiano explicou sobre o conceito de Parlamento Aberto. “É uma forma de deixar o processo legislativo e o sistema de políticas públicas mais transparente para o cidadão, para o cidadão poder acessar os projetos, poder ler, poder estudar os pareceres, poder conhecer tudo o que está rolando na Câmara”.
O palestrante chamou a atenção para a necessidade de os portais institucionais do Estado terem uma linguagem simples e que proporcionem uma boa experiência ao usuário. “Os portais [...] não podem refletir a burocracia ou pensamento técnico da burocracia. Você servidor público, gestor público, político do século XXI, que faça o esforço de traduzir isso para uma linguagem cidadã. Não é o cidadão que tem que estudar a burocracia para entender como o estado funciona”, frisou.
“O cidadão pode contribuir com o parlamento de várias formas: ele pode dar informação sobre os problemas que tem, ele pode ajudar a elaborar os textos, ele pode dar ideias, críticas e sugestões de maneira geral para o parlamento, não só sobre os textos, ele pode apresentar um outro olhar sobre o portal, ele pode desenvolver aplicativos de maneira voluntária ou remunerada, ele pode prestar serviço, ou até criar jogos”, exemplificou Cristiano.
A importância da inovação também foi destacada pelo professor. “Todo profissional do século XXI precisa trabalhar com a inovação hoje”, afirmou. Cristiano citou que com a inovação é possível desenvolver o trabalho de forma melhor, gastando menos energia e dinheiro, mas com mais impacto e resolvendo mais problemas das pessoas.
O pesquisador abordou sobre o conceito japonês Ikigai, que significa “uma razão para ser”. A técnica consiste em identificar a interseção entre quatro elementos: o que você ama; o que você é bom; o que o mundo precisa; e o que pode ser pago. Segundo o conceito, a pessoa vai trabalhar da melhor forma possível se estiver atuando dentro da interseção.
Cristiano apresentou cinco pontos para o agente público do século XXI: 1. Desenvolver o modelo mental (visão); 2. Aprender (como) fazer; 3. Autopercepção: competências; 4. Regras invisíveis da burocracia e da política (senso de oportunidade); 5. Experimentos (iteração).
Já para o servidor público, o professor citou seis competências essenciais: 1. Iteração (interagir o tempo todo); 2. Alfabetização de dados (todo mundo tem que trabalhar com dados); 3. Foco no cidadão; 4. Curiosidade (pessoas que não aceitam o velho jeito de fazer as coisas); 5. Storytelling (mais comunicação, comunicação de maneira mais humana, menos técnica); e 6. Insurgência.
As duas palestras estão disponíveis nas redes sociais da Câmara:
- Parlamento no Século XXI: Facebook | YouTube
- Habilidades do Agente Público do Século XXI: Facebook | YouTube