Servidoras da Semam denunciam más condições de trabalho
A Tribuna Livre da Câmara de Ponte Nova recebeu, na última quinta-feira (26), duas servidoras da Semam (Secretaria Municipal de Meio Ambiente). Karla Nazare de Souza Ferreira e Lucilene Rosa Júlio falaram sobre as dificuldades enfrentadas como servidoras recém-empossadas pela Prefeitura.
Karla relatou situações ocorridas na Semam que, segundo ela, são desrespeitosas e abusivas. “Trabalhar na Semam é uma sentença. [...] Com dois dias de serviço eu passei um dos maiores abusos que um ser humano pode passar. É uma administração arbitrária, abusiva, que desconhece qualquer valor humano, desconhece qualquer lei trabalhista e qualquer princípio de igualdade”, afirmou.
A servidora contou que foi aprovada no último concurso da prefeitura e criticou a forma como os cargos foram definidos no edital. “Eu tenho conhecimento que tem seis pessoas contratadas na função de varrer rua. E uma coisa muito errada que eles fizeram nesse cargo foi unir quatro funções distintas em que uma tem privilégios sobre as outras. Eu acredito que num cargo onde existe quatro funções todas teriam que ter o mesmo tratamento”, opinou.
Aprovada em quarto lugar no concurso, Karla tinha a expectativa de escolher o local onde ela trabalharia, de forma a conciliar com os horários do transporte público disponíveis para a região onde mora. Entretanto, ela foi informada que ficaria à disposição para atender as demandas da secretaria. Além disso, a servidora relatou que no primeiro dia do serviço faltou orientações básicas de como é o trabalho.
“Me mandaram para a rota mais pesada, que foi Pacheco, em plena segunda-feira. [...] Trabalhei até uma hora da tarde, passando mal, porque sou hipertensa, estou acima do peso e tenho 47 anos. Falei com a Isadora: por favor, não dou conta disso. Eu não dou conta de correr atrás do caminhão, eu me senti mal, eu não consegui almoçar de tanta dor abdominal”, relatou.
Ainda assim, Karla disse que foi escalada para trabalhar novamente, no mesmo dia, das 15 às 19 horas. “Quando eu voltei, eu falei com o Bruno: como que eu vou embora agora? Você já esteve na minha casa, sabe onde eu moro. Nesse horário nem carona eu arrumo”.
A servidora contou que no segundo dia também atuou em rotas que exigiam muito esforço físico. De acordo com Karla, um colega responsável por fazer a avaliação de desempenho chegou a avisar a supervisora sobre as condições dela, mas ainda assim foi mantido o planejamento para que ela continuasse o serviço que já estava fazendo.
“O sol estava muito quente, a gente não tem condições de tomar água e nem de fazer xixi, nada disso. Eu tonteei com o caminhão parado, e caí, me acidentei. [...] Eu machuquei o meu pé, fui para o hospital”, disse.
Karla contou que não recebeu nenhum tipo de assistência por parte da Prefeitura. “Eu fiquei 15 dias em casa, que foram descontados de mim. No mês que eu gastei R$ 255 só de remédio, eu recebi R$ 150 da Prefeitura, que foi o meu salário”.
Devido às condições de trabalho na Semam, ela disse que está fazendo o uso de medicamentos de tarja preta e de antidepressivos. Karla contou ainda que o secretário municipal de Meio Ambiente faltou com o respeito com ela durante uma reunião.
Segundo a servidora, somente após arcar com os custos de uma consulta particular e de exames é que foi constado o rompimento de um ligamento do pé. “Foi aí que eu tive um atestado – até fevereiro eu estou de atestado – eu vou ter que fazer fisioterapia para aprender a conviver com isso, porque isso aqui não vai ter conserto”, contou.
Karla destacou que o serviço é de extrema importância para o município e defendeu melhores condições para todos os servidores.
A outra ocupante da Tribuna Livre, Lucilene, também relatou situação semelhante. Ela disse que foi aprovada em primeiro lugar para o cargo de conservação de vias no último certame da Prefeitura. “Nunca imaginei, em toda a minha humilde ignorância, passar por tamanho desrespeito e por situação tão abusiva dentro daquela secretaria”, disse logo no início da participação.
Lucilene contou que desde o primeiro dia de trabalho está atuando na coleta de lixo. “Sem treinamento, sem segurança do trabalho, sem EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) adequados, simplesmente vai. Eu fui, o coletor que estava do meu lado é que me treinou, muito bem até, mas não é uma pessoa que é específica para fazer um treinamento”.
Ela disse que já conversou por diversas vezes com os superiores, mas que a situação ainda não foi resolvida. “A coleta de lixo é uma atividade extremamente árdua, penosa, insalubre, complexa. Você está atrás daquele caminhão, mas tem carro, moto, bicicleta cortando o caminhão o tempo todo. Para você pular daquele caminhão e correr para pegar o lixo, você corre o risco de vida o tempo todo. É Deus que olha a gente!”, ressaltou.
A servidora também afirmou que está fazendo o uso de antidepressivo e relaxante muscular. “Eu estou me arrastando, não consigo mais correr. [...] Já pedi, já implorei: me tira do caminhão, me dá outra oportunidade, de capinar. [...] Eu estou lá para trabalhar”.
Lucilene lembrou que no edital do concurso estava prevista nas atribuições do cargo a coleta de lixo, mas também continha a capina e varrição de vias, além de outras funções. “Então assim, a gente não adaptou no caminhão? A gente poderia fazer uma outra atividade, mas não. Eles falam: não quer o caminhão, então pede exoneração. Três ou quatro já pediram, e eram homens”, destacou.
“Eu já caí do caminhão, com o caminhão a uns 20 quilômetros por hora. Eu caí pra trás, dei duas piruetas no meio do asfalto, bati a cabeça no chão, e a Prefeitura disse que não é acidente de trabalho”, contou indignada.
“Além de tudo, você é obrigada a fazer hora extra. [...] Tudo é imposto, nada é conversado. Você é coagido o tempo todo, se você não for fazer hora extra você perde a cesta básica. Se você não for pro caminhão, você pede exoneração. [...] Não existe conversar, não existe entrar num consenso.”, relatou.
Lucilene falou que as rotas da coleta de lixo são desproporcionais e os horários são cobrados, o que inviabiliza até a possibilidade de tomar água. “Tem água lá na frente na cabine, mas como que você está passando aqui em Palmeiras, com aquela fila de carro atrás, você para o motorista, por exemplo, porque está com sede? A gente usa o bom senso e não toma, espera quando chegar num lugar que não tem tanto trânsito”.
Após a participação das servidoras, os vereadores fizeram comentários sobre o assunto. A comissão de CDH (Cidadania e Direitos Humanos) vai atuar para cobrar uma solução para os problemas relatados.
O vídeo da reunião da última quinta-feira está disponível na página da Câmara no Facebook e no canal no YouTube.