Comissão Covid aponta falta de transparência e falhas na vacinação em PN

por Imprensa — publicado 04/05/2021 15h51, última modificação 04/05/2021 15h51
O grupo preparou e encaminhou, na semana passada, um relatório detalhado aos órgãos de controle, além da CPI da ALMG, para que as medidas possam ser tomadas. Pelo menos em nove situações foram identificadas falhas
Comissão Covid aponta falta de transparência e falhas na vacinação em PN

Imagem de Ali Raza por Pixabay

Um relatório detalhado da Comissão Especial sobre a Covid-19 da Câmara de Ponte Nova foi enviado, na semana passada, a seis órgãos de controle e à ALMG (Assembleia Legislativa de Minas Gerais), por meio da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) que apura irregularidades na vacinação contra a doença no Estado.

O envio do documento foi para os tribunais de contas da União e do Estado de Minas Gerais, a Procuradoria Geral da República, o Ministério da Saúde (via Ouvidoria do SUS – Sistema Único de Saúde), a Ouvidoria Estadual de Minas Gerais para a Covid-19 e o Ministério Público de Minas Gerais.

O documento contém um resumo da atuação do grupo, que a partir das informações adquiridas, também apresenta apontamentos de falhas na campanha de imunização contra o coronavírus, em Ponte Nova. A análise do processo de vacinação identificou, pelo menos, falhas em nove situações.  

As divergências foram geradas, segundo a comissão, pela desorganização e falta de planejamento da Semsa (Secretaria Municipal de Saúde), que não seguiu os planos Nacional ou Estadual de Imunização, além de não ter definido uma política municipal. O relatório também é taxativo quanto à falta de transparência de informações da campanha no município e cita casos em que o Poder Executivo desconsiderou a solicitação de dados sobre a vacinação.

A conclusão da comissão é que a Prefeitura foi omissa e negligente com a política pública de vacinação. “Se por um lado é facultado a estados e municípios estabelecerem as próprias regras de vacinação, é também certa a necessidade de adoção de um plano, com critérios e objetivos transparentes, o que não ocorreu em Ponte Nova. [...] Mesmo naquilo que o Município alega que inovou, permitindo a vacinação de profissionais de saúde autônomos, [...] não o fez de forma objetiva e transparente”, cita o texto.

Mencionando a vacinação de agentes públicos, sem priorizar os profissionais da linha de frente, além da duplicidade de nomes de funcionários de áreas administrativas na lista de imunizados, a comissão avalia que os fatos desafiam as determinações do Ministério da Saúde. “A falta de um protocolo e de instrumentos de controle permitiriam a adoção de interpretações equivocadas do plano nacional de vacinação”, concluiu o grupo.

A comissão justificou o envio do relatório, aprovado por unanimidade em reunião do grupo no dia 8 de abril, aos órgãos de controle federais e estaduais, para que, no âmbito de atuação de cada instituição, adotem as providências que entenderem necessárias.

O relatório

O relatório lembra que a vacinação, em Ponte Nova, teve início no dia 20 de janeiro. Até essa data, segundo o documento, não havia nenhuma informação divulgada pela Prefeitura sobre os procedimentos da imunização, salvo o início, ocorrido naquele dia.

O documento cita a solicitação de dados à Semsa e à SRS (Superintendência Regional de Saúde), que informou seguir as diretrizes da SES/MG (Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais), que tem como base os planos Nacional (com vigência desde dezembro) e Estadual (publicado em 29 de janeiro) de imunização.

De acordo com o relatório, a Prefeitura respondeu de forma parecida e listou as prioridades de vacinação. Entretanto, “alegou não poder enviar a listagem de vacinados, invocando a Lei Geral de Proteção de Dados. Também deixou de responder as perguntas relacionadas à existência do plano municipal, não enviou cronograma previsto para vacinação, deixou de informar as dosagens de vacinas já utilizadas e as quantidades disponíveis, como também não prestou qualquer esclarecimento sobre eventuais perdas ou extravio de vacinas”.

Consta no texto que, após reiterar o pedido, a Semsa entregou parte da lista de vacinados, mas ainda assim sem os dados requisitados pela comissão. Para ter mais informações, a comissão ouviu a responsável pela coordenação dos serviços de vacinação, a Chefe de Departamento de Atenção Básica, Lidiane de Jesus Bento, assim como a secretária de Saúde, Ariadne Salomão Lanna Magalhães.

O relatório considera que a falta de transparência e publicidade quanto à vacinação, já que o município deixou de divulgar os cronogramas de aplicação e as regras de cada etapa de forma clara e objetiva, gerou dúvidas em toda a população. “Ficou evidente a não observância dos planos nacional, estadual e do suposto plano municipal de vacinação”.

O documento aponta divergências em relação às regras de prioridade. “O Plano de Contingência Municipal, em seu item "7 - Campanha", informa que na primeira fase seriam vacinados trabalhadores de saúde acima de 80 (oitenta) anos, mas a maioria dos vacinados possui idade inferior”.

Há, também, considerações sobre a vacinação no asilo, que na lista continha o nome de uma idosa já falecida. “A Secretária Municipal de Saúde informou na Comissão que a pessoa que fez a listagem, coordenador do Asilo, sr. Jaime Augusto de Jesus, não se encontrava no dia da vacinação (20.01.2021), mas há um vídeo que ele estava presente no momento que o prefeito Wagner Mol, atuando na equipe de vacinação, aplicava a dose ao primeiro idoso”.

“Não se concebe que a falha decorra exclusivamente de "erro de digitação", conforme defendeu a Secretária Municipal de Saúde. Até porque, ainda que existente outra institucionalizada no Asilo de nome "Celiana", os demais dados (idade, CPF e data de nascimento) seriam suficientes para evidenciar ao servidor que elaborava a lista que não era a mesma pessoa”, destaca a comissão.

O grupo também concluiu que há falta de controle das pessoas vacinadas, ao citar a ausência de princípios norteadores do controle interno e de um padrão e sistematização de aplicação. “Da forma como foi descrito o procedimento de vacinação, com envio de doses para os diversos setores e unidades com base na relação de servidores eventualmente lotados no setor ou de pessoas institucionalizadas, sem um controle prévio dos dados, e sem definir um parâmetro de restrição de acordo com as atividades efetivamente desenvolvidas, causou distorções e erros absurdos”.

“As duplicidades contidas nas listagens de vacinados, as atividades não relacionadas ao enfrentamento direto da pandemia que foram abrangidas na primeira vacinação, e mesmo a inclusão de uma pessoa já falecida como se tivesse sido vacinada (segundo a explicação do Executivo) somente ocorre porque o procedimento é inadequado, sem controle e somente sofre algum tipo de auditagem quando do lançamento dos dados no sistema do Ministério da Saúde”.

A existência de procedimentos divergentes para a vacinação de profissionais da saúde autônomos, como a exigência de vínculo empregatício, também foi observada pela comissão.

Há, ainda, inconsistências em relação ao quantitativo de doses recebidas e aplicadas. “Além das respostas incompletas, a Secretaria de Saúde se limitou a informar que foi erro do Estado, porém não enviaram até a presente data a documentação comprobatória (ou relatório ou qualquer documento demonstrando divergência nos quantitativos)”.

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