Câmara lança Parlamento Jovem 2023 com recorde de escolas participantes
A Escola do Legislativo da Câmara de Ponte Nova lançou a sétima edição do Parlamento Jovem (PJ), no decorrer da Reunião Plenária da última quinta-feira (16), com a palestra “Para não desperdiçar gente: trabalho e juventude”, ministrada por José Costa Júnior. O plenário João Mayrink recebeu dezenas de estudantes, professores e diretores de escolas, além de representantes de Câmaras da região.
O tema do PJ deste ano é “Jovem e mercado de trabalho”. Os estudantes do ensino médio interessados em participar do programa devem procurar o professor referência ou a direção da escola e manifestar o desejo.
O presidente da Câmara, vereador Dr. Wellerson Mayrink (PSB), abriu oficialmente os trabalhos do PJ 2023, agradeceu pela participação das instituições parceiras, professores, diretores e estudantes das escolas inscritas.
O coordenador político da Escola do Legislativo de Ponte Nova, vereador Wagner Gomides (PV) agradeceu à Mesa Diretora por reconduzi-lo à coordenação política da Escola e o apoio incondicional do presidente Dr. Wellerson, que possibilitou a ampliação das ações da Escola no biênio 2023/2024 e consequente adesão recorde de escolas participando do projeto. Destacou que a adesão ao PJ em Ponte Nova e o apoio das escolas ao projeto de educação política é um sinal que “acreditam no Parlamento Jovem, na Câmara Municipal e também na Escola do Legislativo”. Ele agradeceu à superintendente regional de ensino, Rosane Name, ao Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), à Associação Comercial e Industrial de Ponte Nova/Câmara de Dirigentes Lojistas (Acip/CDL), ao Sindicato do Comércio de Ponte Nova (Sindcomércio) e à Faculdade Dinâmica pela parceria com a Escola do Legislativo.
Neste ano, 11 instituições de ensino aderiram ao PJ, o maior número para uma edição: Escola Estadual Caetano Marinho; Escola Estadual Cantídio Drumond; Escola Estadual Professor Antônio Gonçalves Lanna; Escola Estadual Antônio Coelho; Escola Estadual Professor Raimundo Martiniano Ferreira; Escola Estadual Antônio Martins; Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais (IFMG) – Campus Ponte Nova; Instituto Montessori; Escola Nossa Senhora Auxiliadora; Cemap – Apogeu; e o Centro Estadual de Educação Continuada (Cesec) Professora Vera Parentoni.
A palestra
O professor José Costa explicou a origem da palavra trabalho. “Ela vem de um objetivo de tortura medieval tripalium, que era utilizado no inferno para condenar aqueles que não tinham vivido uma boa vida. Então trabalho parece ser um castigo”.
A apresentação foi norteada com base em perguntas feitas por uma aluna: “no futuro, existirão empregos disponíveis?” e “por que o Brasil não se desenvolve? Por que historicamente nós somos subdesenvolvidos?”.
O professor definiu as capacidades físicas e cognitivas dos seres humanos. “A gente pode alterar o mundo da nossa forma, com a nossa força, como outros animais e com a nossa inteligência” e abordou sobre a ascensão da tecnologia. “A gente não precisa mais sofrer tanto usando a força. A gente passou a investir mais e a valorizar, consequentemente, as nossas capacidades cognitivas, a nossa inteligência. É por isso que a gente vai valorizar um pouco mais aquele profissional que lida com as suas capacidades cognitivas”.
Riscos do mercado do trabalho
Ponderando sobre a primeira pergunta, o professor lembrou que atualmente as máquinas fazem o trabalho manual e cognitivo dos seres humanos. Segundo ele, essas mudanças trazem alguns riscos, principalmente para a juventude. O primeiro é o que tem sido chamado de exército de inservíveis. “Pessoas sem as qualificações necessárias para lidar com o mundo com essa revolução”.
O segundo risco ele caracterizou como “nem nem”. “Eu nem estudo e nem trabalho. Eu fico numa situação difícil, porque eu nem tenho as qualificações necessárias para que o mundo exige e também não consigo me alocar nos processos formativos. [...] Seja porque eu tenho que trabalhar muito, seja porque eu tenho família, seja porque a minha situação social não permite que eu me qualifique”.
O terceiro risco foi definido como “ressentimento”. Segundo ele, esse sentimento gerado é resultado de dinâmicas políticas ocorridas no país nos últimos anos. “Um susto frente ao mundo que já não atende aos nossos desejos, porque a gente não pode planejar muita coisa”.
O último risco foi chamado pelo palestrante como “sobreviventes”. “Faz a luta, trabalha com o que dá para pagar as contas no fim do mês e sobreviver. E um efeito colateral que seriam as ‘sobrasviventes’. A ‘sobrasvivente’ é aquele que mal consegue articular sua vida. São quase sobras. Quem sobra no mercado de trabalho competitivo que exige qualificação e a gente não sabe muito bem o que fazer”.
Colonização
Para responder a segunda pergunta, o professor explicou que o Brasil passou por um amplo processo de dominação do trabalho alheio desde a colonização.
“A gente pensa como outros lugares pensam. A gente não consegue ter uma certa originalidade devido, justamente, ao modo como nós fomos colonizados. Durante quase quatro séculos o trabalho aqui foi um trabalho escravizado”.
José Costa Júnior contou que, nos anos 60, um pesquisador chamado Nathaniel Leff veio ao Brasil tentar entender porque os brasileiros não conseguem avançar socialmente. “Um elemento decisivo [...] dessa dificuldade de desenvolvimento é o fato de nós sermos gente barata. A ideia aqui é estranha e um pouco violenta. Mas repare, nós temos uma dificuldade histórica de qualificar nossos trabalhadores, dado que não somos qualificados e a gente vende nossa mão de obra de uma forma muito barata, muito simples, a gente oferece o que tem”.
Escola pública
O palestrante ainda explicou que em outros lugares a educação básica foi implementada no século 20, enquanto no Brasil ela chegou nos anos 2000. “Há uma dificuldade história de qualificação e informação da população brasileira que, em tese, está diretamente conectada com nosso subdesenvolvimento”.
Soluções
Os caminhos para a solução desses problemas foram citados pelo professor. “Primeiro ponto, deixar de ser gente barata. Deixar de ser gente pouco qualificada, deixar de ser gente que não consegue estabelecer caminhos e melhorar suas condições de produção”.
Ele defendeu que a ampliação de uma cidadania crítica e qualificada é essencial para solucionar o problema do subdesenvolvimento do Brasil. “O sujeito que sabe seu lugar no mundo, o sujeito que sabe que é um cidadão, o sujeito que sabe, que precisa estar envolvido nas dinâmicas políticas do seu tempo”.
Novo ensino médio
José Costa Júnior enfatizou que atualmente a sociedade brasileira vem discutindo a reformulação do ensino médio. “A gente espera que esses debates e encaminhamentos políticos envolvam essa preocupação em construir gente qualificada com cidadania crítica”.
Após a palestra, muito aplaudida, quase todos os vereadores fizeram considerações sobre o conteúdo abordado pelo professor e a importância da discussão do tema do PJ 2023 e do projeto para a formação política dos cidadãos.
A responsável pela Superintendência Regional de Educação (SRE) de Ponte Nova, Rosane Name, citou Paulo Freire para realizar considerações sobre a educação. De acordo com ela, o autor cita que mais do que se atentar a estruturas físicas de ambientes de ensino, é necessário ter atenção e zelo com aqueles que frequentam as escolas.
“É claro que nós precisamos de um prédio bonito, de um prédio com toda infraestrutura para ser chamado de escola. Mas esse prédio ele só tem sentido se a gente enxergar ali gente, pessoas. Pessoas fazem escola. Alunos fazem a escola, educadores, ajudantes de serviços gerais. Esta é a escola”.
Ela ressaltou que o mercado de trabalho não objetiva acolher profissionais que apenas dominam a tecnologia. mas também aqueles que sabem conviver em sociedade.
“Muitas vezes uma pessoa é selecionada pelo seu currículo, por todos os cursos que ela tem. Mas na hora de agir, na hora de trabalhar, ela não seria a melhor pessoa. Além desse domínio técnico, nós precisamos colocar nas nossas escolas [...] a certeza que a gente está pensando globalmente. Nós precisamos de pessoas que sabem lidar com conflitos, resolver problemas, pessoas que vão além de dominar apenas um discurso”, salienta a superintendente.
O PJ é um programa para os estudantes do ensino médio que objetiva fornecer formação política aos jovens e uma oportunidade de conhecer melhor a política e os instrumentos de participação no Poder Legislativo Municipal e Estadual.
Anualmente, o PJ aborda um tema de relevância social e do interesse dos jovens, que é trabalhado por meio de diversas atividades de estudo, oficinas, debates e deliberações que permitem a vivência e o aprofundamento do tema.
O programa é promovido pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), por meio da Escola do Legislativo, em parceria com as Câmaras Municipais e a PUC Minas. Em 2023, 153 municípios aderiram ao projeto.
O vídeo da Reunião Plenária do dia 16 de março está disponível na página da Câmara no Facebook e no canal no YouTube.
*Texto redigido pela estagiária Melissa Castro sob a supervisão da Divisão de Comunicação